Seria possível diferenciar, com clareza, os limites de um amor saudável de um amor excessivo? De que modo “amar demais” pode se tornar fonte de angústia e sofrimento em uma relação?
Atitudes de carinho, atenção e cuidado para com o companheiro fazem parte de qualquer relacionamento amoroso. Entretanto, quando tais atitudes se tornam excessivas, repetitivas e descontroladas, fazendo com que a pessoa (que ama e se relaciona dessa maneira) abandone atividades e interesses anteriores a relação para se dedicar exclusivamente aos interesses do parceiro, trata-se de uma condição de “amor patológico” – um tipo de sentimento inadequado e com características semelhantes àquelas encontradas nos comportamentos de alcóolatras e dependentes químicos.
Alguns estudos já apontaram que a sensação de estar apaixonado pode ser equivalente à euforia obtida pelo uso de drogas estimulantes como anfetamina. Logo, é possível compreender que um relacionamento amoroso, assim como uma droga, pode funcionar como uma espécie de anestesia para a vida. Todos os pensamentos, sentimentos e ações estão voltados para a pessoa amada e, desse modo, é possível se distanciar dos problemas e, principalmente, de si mesmo.
A pessoa que vivencia um amor patológico deseja permanecer para sempre nesse estado ilusório de paixão, euforia e negação da realidade. Como sente medo do abandono, de estar sozinha ou de não se sentir valorizada passa a ter comportamentos impulsivos e frequentes para evitar que o outro se frustre e coloque um fim na relação – o que, de fato, pode acabar acontecendo, já que esse tipo de sentimento e suas ações podem provocar diversos conflitos e o distanciamento do outro.
A literatura aponta que essa maneira nociva de se relacionar está mais presente entre as mulheres, uma vez que culturalmente são mais estimuladas do que os homens a desejarem um relacionamento amoroso e acreditarem, consequentemente, que a outra pessoa trará felicidade e dará sentido às suas vidas.
São, frequentemente, mulheres oriundas de lares desajustados, com pais distantes (fisicamente e/ ou emocionalmente) e que, ainda na infância, assumiram responsabilidades e cuidados para com seus familiares, na intenção de serem aceitas e amadas.
Com isso se tornaram adultas sempre prontas a satisfazer necessidades alheias, mas pouco conhecedoras das próprias necessidades, já que nunca se sentiram legitimadas a olharem para dentro de si.
Como desconhecem outra maneira de se relacionar, repetem os padrões de relacionamento da infância e se encantam por parceiros distantes ou inseguros, que podem ser alcoólatras ou dependentes químicos e que, portanto, precisam de cuidados. Pessoas seguras e afetuosas não despertam o interesse dessas mulheres, pois não seriam capazes de ocupar o papel que lhes cabe na díade “carente x cuidador”.
São mulheres, em geral, com histórias de vida permeadas de sofrimento e que encontram em uma relação amorosa um alívio ilusório para tudo aquilo que haviam vivido desde então. Em geral, procuram tratamento quando a relação chega ao fim e não se sentem capazes de lidar com tamanha angústia (aquela que já existia antes do relacionamento e um outro tipo de angústia provocada pela dor da rejeição, um sentimento tão conhecido para ela).
A psicoterapia pode ser um importante instrumento na conscientização e tratamento desse tipo de amor excessivo e destrutivo.
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